terça-feira, 26 de julho de 2011

O BARROCO NO BRASIL


Igreja de São Francisco, em Salvador, com frontão de característica barroca



No século XVIII, o Brasil presenciou o surgimento de uma literatura própria a partir dos escritores nascidos na colônia, quando as primeiras manifestações valorizando a terra surgiram. 

Contexto Histórico

Os fatos históricos fundamentais da época foram a Primeira invasão holandesa, que ocorreu na Bahia, em 1624, e a Segunda, em Pernambuco, em 1630, que perdurou até 1654.

As invasões aconteceram na região que concentrava a produção açucareira.
A produção literária não foi favorecida nesse período, pois a disputa pelo poder no Brasil era evidente e chamava toda a atenção.

O Barroco surgiu nesse contexto como fruto de esforços individuais, quando os modelos literários portugueses chegaram ao Brasil.
A arte que se desenvolveu com mais força foi a arquitetura, mas a partir da segunda metade do século as artes sofreram impulso maior.

Costuma-se considerar a publicação da obra Prosopopéia (1601), de Bento Teixeira, como o marco inicial do Barroco no Brasil. Esse é um poema épico, de estilo cancioneiro que procura imitar Os Lusíadas.

Os autores barrocos que mais se destacaram são:
- Gregório de Matos (na poesia);
- Pe. Vieira (na prosa);
- Bento Teixeira;
- Frei Manuel de Santa Maria Itaparica;
- Botelho de Oliveira;
- Sebastião da Rocha Pita;
- Nuno Marques Pereira.

Gregório de Matos (1633? – 1696)

Gregório de Matos é o maior poeta barroco brasileiro, sua obra permaneceu inédita por muito tempo, suas obras são ricas em sátiras, além de retratar a Bahia com bastante irreverência, o autor não foi indiferente à paixão humana e religiosa, à natureza e reflexão. 
As obras desse escritor são divididas de acordo com a temática: poesia lírica religiosa, amorosa e filosófica.

- A lírica religiosa: explora temas como o amor a Deus, o arrependimento, o pecado, apresenta referências bíblicas através de uma linguagem culta, cheia de figuras de linguagem. Veja que no exemplo a seguir o poeta baseia-se numa passagem do evangelho de S. Lucas, quando Jesus Cristo narra a parábola da ovelha perdida e conclui dizendo que “há grande alegria nos céus quando um pecador se arrepende”:

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa alta clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na sacra história

eu sou Senhor, a ovelha desgarrada,
cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
perder na vossa ovelha, a vossa glória.
(Gregório de Matos)


- A lírica amorosa: é marcada pela dualidade amorosa entre carne/espírito, ocasionando um sentimento de culpa no plano espiritual. 

- A lírica filosófica: os textos fazem referência à desordem do mundo e às desilusões do homem perante a realidade.

Em virtude de suas sátiras, Gregório de Matos ficou conhecido como “O boca do Inferno”, pois o poeta não economizou palavrões nem críticas em sua linguagem, que além disso era enriquecida com termos indígenas e africanos.

Eis um exemplo dos muitos “retratos” que Gregório de Matos compôs:

Soneto

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana, e vinha,
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa. Escuta, espreita, e esquadrinha,
Para levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda picardia.

Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.

Nesse texto o poeta expõe os personagens que circulavam pela cidade de Salvador - conhecida como Bahia- desde as mais altas autoridades até os mais pobres escravos.


http://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/barroco-no-brasil.htm
Por Sabrina Vilarinho - 

GREGÓRIO DE MATOS 
O poeta
Cronologia da vida de Gregório de Mattos e Guerra,
conhecido como Boca do Inferno ou Boca de Brasa.

1636 – A data comumente aceita para o nascimento de Gregório de Mattos e Guerra é a de 23 de dezembro de 1636, mas alguns biógrafos podem apresentar a possibilidade de ter ocorrido em março de 1623. O poeta nasceu em Salvador, Bahia, e era filho de Gregório de Mattos (natural de Guimarães, Portugal) com Maria da Guerra. Os Mattos da Bahia eram uma família abastada, formada por proprietários rurais, donos de engenhos, empreiteiros e funcionários da administração da colônia.
1642 – Devido à condição financeira de sua família, Gregório teve acesso ao que havia de melhor em educação na época e pôde estudar no Colégio dos Jesuítas, em Salvador.
1650 – Viaja para Portugal, onde irá completar seus estudos.
1652 – Ingressa na Universidade de Coimbra.
1661 – Formatura em Direito. Nesse mesmo ano, casa-se com D. Michaela de Andrade, proveniente de uma família de magistrados.
1663 – É nomeado Juiz de Fora de Alcácer do Sal, Alentejo, por D. Afonso VI.
1665-66 – Exerce a função de Provedor da Santa Casa de Misericórdia no mesmo local.
1668 – No dia 27 de janeiro é investido da incumbência de representar a Bahia nas Cortes, em Lisboa.
1671 – Assume o cargo de Juiz do Cível, em Lisboa.
1672 – Torna-se Procurador da Bahia em Lisboa por indicação do Senado da Câmara.
1674 – Novamente representante da Bahia nas Cortes, em Lisboa. Nesse mesmo ano, é destituído da Procuradoria da Bahia e batiza uma filha natural, chamada Francisca, na Freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
1678 – Fica viúvo de D. Michaela com quem sabe-se que teve um filho do qual não há registros históricos.
1679 – É nomeado Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia.
1681 – Recebe as Ordens Menores, tornando-se clérigo tonsurado.
1682 – É nomeado Tesoureiro-Mor da Sé, por D. Pedro II. Como magistrado de renome, tem sentenças de sua autoria publicadas pelo jurisconsulto Emanuel Alvarez Pegas. Isto viria a acontecer novamente em 1685.
1683 – No início do ano, depois de 32 anos em Portugal, está de volta a Bahia, Brasil. Meses após seu retorno, é destituído de seus cargos eclesiásticos pelo Arcebispo D. Fr. João da Madre de Deus, por se recusar a usar batina e também por não acatar a imposição das Ordens maiores obrigatórias para o exercício de suas funções. É nessa época que surge o poeta satírico, o cronista dos costumes de toda a sociedade baiana. Ridiculariza impiedosamente autoridades civis e religiosas.
1685 – É denunciado à Inquisição, em Lisboa, por seus hábitos de “homem solto sem modo de cristão”.
168(?) – Ainda na década de 1680, casa-se com Maria de Póvoas (ou “dos Povos”). Desta união, nasce um filho chamado Gonçalo.
1691 – É admitido como Irmão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
1692 – Paga uma dívida em dinheiro à Santa Casa de Lisboa.
1694 – Seus poemas satíricos contra o Governador Antonio Luiz Gonçalves da Câmara Coutinho faz com os filhos deste o ameacem de morte. O Governador João de Alencastro, amigo de Gregório, e outros companheiros do poeta armam uma forma de prendê-lo e enviá-lo à força para Angola, sem direito a voltar para a Bahia. Isto causa profundo desgosto a Gregório. Ainda nesse mesmo ano, envolve-se em uma conspiração de militares portugueses. Interferindo neste conflito, Gregório colabora com a prisão dos cabeças da revolta e tem como prêmio seu retorno ao Brasil.
1695 – Retorna para o Brasil e vai para o Recife, longe de seus desafetos na Bahia. Morre no dia 26 de novembro, antes de completar 59 anos, de uma febre contraída em Angola.

A POESIA
E pois coronista sou.
Se souberas falar também falaras
também satirizaras, se souberas,
e se foras poeta, poetaras.
Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero dar culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar,
por quem de mim não tem mágoa?
Verdades direi como água,
porque todos entendais
os ladinos, e os boçais
a Musa praguejadora.
entendei-mes agora?

Permiti, minha formosa,
que esta prosa envolta em verso
de um porta tão perverso
se consagre à vossa fé
sou já Poeta converso
Mas amo por amar, que é liberdade.

fonte: WWW.MEMORIAVIVA.COM.BR


BENTO TEIXEIRA
Bento Teixeira
Veio para o Brasil, com sua família, em 1567. Fez seus primeiros estudos no colégio dos jesuítas, no Espírito Santo; em 1576 mudou-se para o Rio de Janeiro RJ, onde estudou com os padres da Companhia de Jesus. Terminou seus estudos com os jesuítas em 1579, em Salvador BA. Entre 1584 e 1588 manteve uma escola em Olinda PE, subsidiada pela Câmara Municipal, na qual lecionava juntamente com sua esposa. Foi acusado, no período de 1588 a 1599, de prática religiosa judaica, na época proibida pelo Tribunal da Santa Inquisição. Foi absolvido do auto-de-fé em 1785, sob acusação de blasfêmia, pelo Ouvidor da Vara Eclesiástica Diogo do Couto. Após tentativa de fuga, em 1785, foi mandado para Portugal e preso em Estaus. Lá negou a crença e a prática judaica, vindo a confessá-las depois. Abjurou do judaísmo e recebeu a doutrinação católica em um auto-de-fé, obtendo então liberdade condicional. Publicou em Lisboa, em 1601, seu poema Prosopopéia, no livro Naufrágio que Passou Jorge d'Albuquerque Coelho, Capitão de Pernambuco. Bento Teixeira teria sido o primeiro poeta nascido no Brasil; escreveu um dos poemas mais importantes do barroco brasileiro, Prosopopéia.
Fonte: www.itaucultural.org.br


(1561-1600)

DADOS BIOGRÁFICOS

Bento Teixeira, nasceu no Porto em 1561. Cristão-novo, estudou para seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu. Formou-se no Colégio da Bahia, onde lecionou. Por ter assassinado a esposa, teve de se esconder em Pernambuco, onde redigiu Prosopopéia, publicada em 1601. Faleceu em Pernambuco, na segunda década de 1600.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

Prosopopéia, poemeto encomiástico a Jorge de Albuquerque Coelho, 3º donatário da capitania de Pernambuco, marca o início do movimento Barroco no Brasil e pode ser considerado um primeiro exemplo de estilo rebuscado no Brasil-Colônia. Escrito em oitavas heróicas, reflete forte influência dos Lusíadas pela sintaxe, máximas camonianas e lugares-comuns mitológicos. Revela, também, atitude nativista luso-brasileira, ao louvar a terra, enquanto Colônia e os feitos do herói.
Fonte: www.nilc.icmc.usp.br

1560 - 1618)

Poeta português nascido na cidade do Porto, Portugal, autor do primeiro poema épico da literatura brasileira, Prosopopéia, sobre a conquista de Pernambuco, marco inicial do barroco na nossa literatura, e também sua única obra. Filho de cristãos-novos, a família transferiu-se para a capitania do Espírito Santo, na então colônia do Brasil (1567).
Estudou em colégios jesuítas, tentou seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu e casou-se com a cristã Filipa Raposa (1584), em Ilhéus, BA. Formou-se no Colégio da Bahia e transferiu-se em seguida para Pernambuco, onde se dedicou ao magistério, à advocacia e ao comércio. Acusado pela mulher de judeu e mau cristão, foi julgado e absolvido pelo ouvidor da Vara Eclesiástica da Inquisição (1589), depois de levado a auto-de-fé. Depois foi intimado pelo visitador do Santo Ofício, ao qual fez sua confissão (1594). Revoltado, assassinou a mulher (1594) e se refugiou no mosteiro de São Bento, em Olinda.
Preso durante frustrada tentativa de fuga, foi enviado para Lisboa (1595), onde inicialmente negou, mas depois admitiu a crença e prática judaicas, que abjurou em auto-de-fé (1599). Na prisão em Lisboa, de onde não mais sairia vivo, o autor fez sua composição de elogio aos primeiros donatários de Pernambuco no poema épico Prosopopéia (1601), considerada uma expressão pioneira do nativismo. Tratava-se de uma composição em oitava rima, com 94 estrofes, exaltando a obra de Jorge de Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, obedecendo ao modelo Camoniano, considerada cansativa e laudatória, de valor puramente histórico.
Fonte: www.dec.ufcg.edu.br



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